PROJETO DE REABILITAÇÃO DA PRIMEIRA FÁBRICA DE FIAÇÃO DO PAÍS
O projeto de reabilitação da primeira fábrica de fiação do país, em Santo Tirso, está em fase final. A Porto canal esteve no local com o arquiteto José António Lopes para conhecer o projeto de arquitetura com assinatura ad quadratum arquitectos. O projeto de reabilitação acontece naquela que foi a primeira fábrica de fiação do país, uma das mais emblemáticas fábricas do Vale do Ave e, outrora, uma das maiores empresas têxteis da Europa. O projeto de arquitetura é para a Hotelar Têxteis e ocupará mais de um terço do espaço da velha fábrica.
O edifício assume-se como um marco emblemático do património industrial e símbolo de uma época áurea da construção associada à dinâmica da indústria têxtil no Vale do Ave. Aqui, será instalado o novo centro de logística e distribuição (escritórios, matéria-prima, produto acabado e produção) daquela empresa portuguesa, numa área total de 37.000 m2 de terreno, 22.000 m2 dos quais são área coberta, distribuídos por dois pisos.
UMA REFERÊNCIA INCONTORNÁVEL NA MEMÓRIA COLECTIVA DE SANTO TIRSO
A proposta do projeto de arquitetura acomoda o organigrama industrial e de armazenagem de uma ‘nova’ têxtil, orientada e sensível à preservação patrimonial, como valor de cultura e como suporte a novas práticas industriais assentes em tecnologias de ponta, sustentáveis e adequadas à preservação e valorização do relevante ‘contendor’ edificado onde se instalará. Localizada na margem esquerda do Rio Ave, e próxima do centro da cidade, a fábrica constitui uma referência incontornável na memória coletiva de Santo Tirso e um espaço fundamental na compreensão do desenvolvimento da região e da indústria: um complexo de grande relevância arquitetónica e histórica no âmbito da arqueologia industrial.
O gabinete ad quadratum arquitectos assumiu a responsabilidade da recuperação deste edifício tendo em mente que: «A intervenção e a investigação em edifícios e conjuntos de interesse patrimonial, não só o classificado, são uma arte que exige um saber muito específico e obrigam a um grande respeito pelos edifícios a intervencionar. Estamos a recuperar as ruínas industriais respeitando a estrutura preexistente. Os edifícios antigos “devolvem em dobro” o que lhes damos.», refere o arquiteto José António Lopes.
A FÁBRICA DE FIAÇÃO E TECIDOS DO RIO VIZELA
Nascida em 1845, a Fábrica de Fiação e Tecidos do Rio Vizela chegou a empregar mais de três mil pessoas. Dos cerca de nove quilómetros quadrados de área que a empresa ocupou, já só restam as paredes e as carcaças de algumas máquinas. Foi uma das mais emblemáticas fábricas do Vale do Ave, coração da Indústria Têxtil e do Vestuário portuguesa e uma das maiores empresas têxteis da Europa, mas não resistiu à chegada do novo século.
A Fábrica de Fiação e Tecidos do Rio Vizela foi protagonista, com outras fábricas da região do Vale do Ave, no processo de industrialização local, de carácter marcadamente têxtil. Os primeiros anos de atividade foram marcados pela instabilidade política e económica do país. A Guerra civil de 1846-47 e o início da regeneração em 1851, contribuíram para a situação precária em que se encontrava a indústria nacional. Os primeiros anos pautam-se assim por algumas dificuldades no escoamento dos produtos armazenados e pelas pesadas taxas alfandegárias que incidiam sobre o algodão. A guerra da secessão nos EUA (1861-65), fez aumentar o preço do algodão, permitindo à fábrica transformar em lucro o produto armazenado.
Nas décadas seguintes realizaram-se grandes obras, para a ampliação das instalações e modernização das máquinas. A fábrica estende-se à outra margem do rio Vizela, multiplica o número de trabalhadores e das encomendas. Alarga a sua atividade às colónias africanas estabelecendo feitorias em Angola e contactos em Moçambique. É a responsável pela chegada do comboio a Negrelos, assim como participa nos trabalhos para a recuperação da estrada que a liga à Vila de Santo Tirso.
Em 1911 um grande incêndio destruiu parte do edifício de quatro andares onde se encontrava a fiação, demonstrando a necessidade de construir instalações mais seguras. Durante a década de 30 e 40, a fábrica estendeu-se então para a margem direita, concentrando aí, até hoje, os seus principais edifícios.
No início dos anos 50 a Fábrica contava com 3000 operários, alimentando 31.624 fusos e tendo em funcionamento cerca de 1200 lágrimas. Em 1953, formava-se uma Sociedade de Fiação e Tecelagem do Rio Vizela, a qual arrendou a Fábrica e estruturas anexas à sociedade cessante, através dos seus sócios.